Wednesday, August 29, 2007

Duvida

Não ouças mais este conto
Porque tenho a tendência
De acrescentar mais um ponto
E acabar na reticência

Para quê final feliz,
Desse com ponto final
Se sou ardósia e tu giz
Tu és agua e eu sou cal

Para quê tanta pressa
E querer sempre a certeza
Se é a duvida essa
Que transporta a beleza

Vou ver-te mais uma vez?
Isso foi com intenção?
Fui sol que dourou a tez?
Resito a outra estação?

Wednesday, June 06, 2007









Mar de prata

É mar que me resgata,
Onde julgo estar cativo,
É mar que ora mata,
Ora tudo mantém vivo

É da cor do que me ata
E da cor do meu umbigo
Tem mil cores essa prata
E mil faces meu amigo

Mar de prata, sal e sol
Mar de dia a despertar
Sustenido ou mar bemol
Sabe a prata este Mar

E lá dentro o alquimista
Persegue o sonho de transformar
Mar de prata! Mar á vista!
Mar que um dia há-de dourar.

Sunday, May 20, 2007






Ró Mance

Metade de ti, pousas devagarinho
Vem nessa mochila, que já não tem cor
Um terço, ou mais, ficou no caminho
Que tem o tamanho do meu corredor

E chegas ao quarto já nua
Ficou na bagagem o teu pudor?
E que é das palavras? Das histórias?...da tua?
Contas-me um conto na dança do amor.

E se esses olhos pudessem falar
Se soubesses quem sou, e eu, quem tu és
Talvez pudessemos redesenhar
O mapa que trazes na planta dos pés

O sal que deixei no teu corpo é teu
Era, afinal, o que vinhas buscar
Esse sorriso não procurei eu
Decida o Tempo se o vai apagar.

"Oh, I do belive
In all the things you say
What comes is better, than what came before

And you better come ,come come, come come, to me
Better come come, come come to me
Better run, run run , run run to me
Better come"

Cat Power, I Found a Reason

Monday, February 19, 2007

Wednesday, January 31, 2007

Cor-de-ti

Continuam na retina
Dos meus olhos, os teus
Espelho da alma que mina
A intenção do Adeus

E se acaso perdi
O toque da tua mão
Resta-me a cor-de-ti
Sombra da luz da paixão

Friday, January 26, 2007














Foto por Xanix

Asas servem p'ra voar
Para sonhar ou p'ra planar
Visitar, espreitar, espiar
Mil casas do ar

As asas não se vão cortar
Asas são p'ra combater
Num lugar infinito
Num vacuo para ir espiar o ar

Asas são p'ra proteger
Te pintar, não te esquecer
Visitar-te, olhar, espreitar-te
Bem alto do ar

E só quando quiseres pousar
A paixão que te roer
É o amor que vês nascer
Sem prazo, idade de acabar
Não há leis para te prender
Aconteça o que acontecer

Mas só quando quiseres pousar
A paixão que te roer
É o novo amor que vês nascer
Sem prazo, idade de acabar
Mas só quando quiseres pousar
A paixão que te roer
É o amor que vês nascer
Sem prazo, idade de acabar
Não há leis para te prender
Aconteça o que acontecer
Não vejo mais p'ra te prender
Aconteça o que acontecer
Não há leis para te prender
Aconteça o que acontecer

Gnr,Asas Electricas

Tuesday, January 23, 2007

Lua II

A noite é um dia triste
E a Lua um Sol cessante
Vive do brilho e insiste
Em ter nele o seu amante

A Lua que quando aquece
Não queima a pele nem mareia
Só guia quando anoitece
E a noite é de quem vagueia.

"As often times the too resplendent sun
Hurries the pallid and reluctant moon
Back to her somber cave, ere she hath won
A single ballad from the nightingale
So dot thy Beauty make my lips to fail,
And all my sweetest singing out of tune"
Oscar Wilde, Silentium Amoris

Monday, January 15, 2007

Páginas Brancas

Soltam-se páginas brancas
Livres do meu passado
Queria usar-te de novo,
Quero-me imaculado

Quero-te agora mais alta
Com outra cor de cabelo
E que não sintas a falta, amor
Por saber estar a vivê-lo

Quero falar bem mais alto
E ser inconveniente
Que ao olhar do meu palco
Sinta embaraço, de tão sorridente

Quero a lua redonda
Que o Sol poente se ponha de inveja
Saber que há quem se esconda
E quem não saia um minuto que seja

E que sem pressa a cidade
Do rio ao qual cedeu
Espera a identidade,
Do nome de um filho teu

Friday, January 12, 2007

Meio Tom

Acho que ser meio tom
Deve ter a sua graça
Quem me dera ter o dom
Reclamar para mim o som
Dessa menina que passa

Agarrar nesse refrão
Que esquece quem leva a taça
Fazer dele uma canção
E levá-lo pela mão
Dessa menina que passa

Passeá-lo no num Poema
De um amor desses de Platão
Chovesse em Ipanema
Saísse o Rio de cena
Ela sabendo ou não

Ia agora ser cantada
De verso encadeado
Tinha tudo , não tem nada
Escolheu ser a mal-amada
Foi Bossa e agora é Fado

Wednesday, January 03, 2007






"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar"
Sophia de Mello Breyner Adresen, Inscrição

Tuesday, January 02, 2007

Batel

Ás vezes sinto que sinto
Ás vezes minto outra vez
Eu não finto
Eu pinto
Aquilo que vês

As letras que eu desenho
Não as vais ler num papel
Das cartas que eu detenho
Desdenho
Qual pintor do seu pincel

Mas não me roubes a mão
Sem ela sou só papel
Resmas largadas no chão
P'ra ser madeira, antes porão
Do teu enorme Batel

"Um por um para o mar passam os barcos
Passam em frente de promontórios e terraços
Cortando as águas lisas como um chão
E todos os deuses são de novo nomeados
Para além das ruínas dos seus templos
"
Sophia de Mello Breyner Andresen, Barcos