Thursday, December 15, 2005

Como eu descobri a Mágica.

Acordas às dez prás sete
O frio mora para lá do lençol
Tá contigo a mais que tudo
Lá fora o dia ainda é mudo
Mas a previsão era brutal

Saltas fora do teu ninho
E ligas o celular
Expectante rezas baixinho
Até que telefona o Zinho
-"Tá metro e meio tubular".

Apressas a companheira
Que já não quer acreditar
E dirige-se á banheira
Tu topas a sorrateira
E soltas um: -"Sugar...nem pensar."

Descem a escadaria
E ela sempre a atrofiar
Até que tropeça e enfia
O teu "tail" na pedra fria
E ainda um riso deixa escapar

Dá-se a inevitável explosão
Que "não dás para aguentar"
Recorres ao palavrão
Orgulhosa "enfia-te" a mão
E vai pra casa da mãe chorar.

Hoje o pico é todo teu
Surfas até rebentares
Sentes os elementos em reunião
E não ouves o habitual sermão
Quando atrasado chegares

Mais tarde dás-lhe o teu toque
Que ela te fez um faltão
Ela sente o sal no corpo
Resiste, mas dá para o torto.
Agarra-la e..."Ah Leão"

No Natal prá tua prenda
Descem à arrecadação
Adivinhas no seu riso
Vais entrar no paraíso
Ela comprou-te "o" pranchão.

Confessa meio sem graça
Pede desculpas tardias
Ia comprar-te um relógio,
Mas depois do Episódio
Acho q´era isto que querias

Agora vejam amigos
Quão fã sou da "quincadela"
Com Surftech nada acontecia
Surfava nem meio dia
E a mágica nem vê-la!

Sunday, December 11, 2005

Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vias deixar aí a tua chave
Que vais á cave içar o teu malão.

Mas como destrinchar os nossos bens?
Que livro? Que lembrança? Que papel?
Os meus olhos bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo- é minha!- a tua pele.

Achei até um sonho, já muito velho,
Não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho,
Que eu costumo usar quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

De quem é esta briga? Não me lembro.

Rosa Lobato Faria

Wednesday, December 07, 2005



Se o tempo tem todo o do mundo
Porque não pára um segundo,
Nem nunca tenta abrandar?

E tu que não tens no fundo
Metade do tempo no mundo
Porque insistes no tempo parar?

Tuesday, November 22, 2005

Poética

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo

A Oeste a morte
Contra quem vivo
Do Sul cativo
O Este é meu Norte

Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo é quando"

Vinícius de Moraes

Monday, November 14, 2005

Tá a sair bem , sabe?

Enquanto espero pela minha vez
Acho-me na África d´outro
Não escurece a minha tez
Nem passa a Búfalo o Touro.

Mas há betume a queimar-me os pés
Fazem falta as cores primárias
E só vejo um sentido
Nas cidades portuárias

Mas, cedeu a bússola ao sal?
Corroeu-se o mecanismo?
Um Polo uniu-se ao outro,
E formaram localismo?

Porque só para Sul aponta,
Esta agulha "de idade"?
Já só faltava aquilo
mas..."tá a sair bem,sabe?".

Sunday, November 13, 2005

A Empresária e o Surfista:)


Foi tão bom saber que ainda me amas.
E é bom voltar a vivê-lo
A ti também, mas é o apelo
Que me move
De que tinha falta
Escrevê-lo.

Foi bom saber que ainda sinto.
E saber que quando minto
Não o faço em vão
Não sei para onde vou
Mas quando apontar
Haja convicção.

Lembras-te de quando o tempo
Parava para haver confissão
Percebes que perdê-lo,
É que me faz andar
Ou não?

Lembras do nosso canto?
Não, não é o lugar
Pejado de ti
Que sabia a mar
São aqueles segundos
Quando o verbo era dar.

Não é assim tão difícil
Para quê tanta questão?
Não nos perdemos a meio
Ganhámo-nos no fim
Quer tu queiras
Quer não.

Wednesday, November 09, 2005

Anhanço Quasi LaPaliciano

Pim Pam Pum
Cada tiro mata um.

Pim Pam Pão
Vai pra dentro do caixão

Pim Pam Pinha
E Quem fica o que é que tinha?

Pim Pam Pala
Colete á prova de bala.

Thursday, October 20, 2005

...foi então que parou e tomou uma decisão.
-"Vou ter que parar com esta vida...começar a fazer alguma coisa..."

E fez.
Fez uma sandes de manteiga.

Wednesday, September 14, 2005

As conversas cruzadas
Aqui ecoam perdidas
Contam historias mal passadas
De vidas tão bem contadas
Sendo que não são vividas

Ouço versos declamados
Por vidas de mal amados
De Poemas que são escritos
Contam que foram vividos
Em tempos de troca o passo.


Não ouço gritos
Só risos
São Fados, escritos
Cantados.

Ouço um velho Almirante
Que de olhar penetrante
Saca da leve da sacola
O livro da quarta escola
E entra assim de rompante:

Olhe, "minha Puta rainha"
Digo-lhe a si cara minha
Era termo respeitante
Em tempo de meu Comandante
Á virilidade que tinha
A mulher no seu quadrante

Não ouço gritos
Só risos
São fados , escritos
Cantados

...

Thursday, September 08, 2005


Instante

É menor do que pequeno
Uma ínfima fracção
Quando se para o tempo
Fez parte de um momento
Passa a recordação.







Sunday, July 10, 2005

Saudade

Tenho saudade de ti
Porque me envolves com essa prontidão
Porque tratas de mim
E eu não.

Porque me dás com prazer
Vagas de devoção
E a inconsistência do teu querer
Dá à inevitabilidade do meu ser
Uma certeza sem senão.

Tenho saudade de te
Envolver com esta prontidão
Porque eu trato de ti
E tu não.

Wednesday, June 01, 2005


Sorria e pensava, "nem a ti próprio te enganas..." Só mais uma...
Só mais uma e deixo cá tudo. Só mais uma e vou...vazio.
Mas não ia. E todos os dias voltava confiando na capacidade depuradora do mar.
. Posted by Hello

Friday, April 22, 2005

Diário da Conspiração

Facto: Nos últimos 10 anos instalou-se em Lisboa uma comunidade de 14 000 indviduos de raça Chinesa. Existem nos registos de óbito, no mesmo periodo, de 41 000 indivuduos de nacionalidade estrangeira. 2 são Chineses.

Questão : Mé quié?

Conspiração : Canibalismo na porta ao lado?

Sugestão/Dica : Liberta o repórter/detective/anhado que se agita dentro de ti e saca a . a historia da tua vida...

Monday, April 11, 2005

retrato

Preparava-se para dormir. Depois de enrolar mais um cigarro, certo de que este seria o último, David, procurava de comando na mão a companhia que este, depois de aceso, reclamava. Por entre as fumaças espaçadas que envolviam o feixe de luz que irrompia do televisor, reparava numa fotografia de Noah. Sabia que não o tinha feito espontaneamente. Já reparara nela na noite anterior. E na outra. De facto vinha a convencer-se de que vivia a sua união dividida entre aquela com quem se deitava todas as noites desde á nove anos á altura e uma outra, escondida por detrás da transparência de um rectângulo de vidro encaixado na moldura. Uma cuja óptica cansada de um posto de auto-retratos perdido algures no meio da cidade tinha, esses mesmos nove anos antes, eternizado para si. Uma cuja imagem se encerrava em si mesma e que não se tinha submetido a quase uma década de despertares, desapontamentos, concretizações, paixões,e a casos de orgulhos feridos mal curados. Uma que teimava em não despir o casaco de pele coçada ou de trocar as pulseiras que energicamente agitava no ar, e insistia no mesmíssimo sorriso virgem de sempre. A outra, deitada dormia no quarto ao lado, como na noite anterior. E na outra. Amor á primeira vista. Pelas duas.